LITTLE PORTUGAL - LONDON UK
DA HABITAÇÃO EM INGLATERRA
Parte
da filosofia
da União Europa consiste em facilitar a
circulação de trabalhadoras/es pelos mais variados países membros, a fim de
criar laços fortes entre as pessoas e evitar provocar mais guerras. Ciente desta facilidade e oportunidade de
movimento entre países, A FOLHINHA de STOCKWELL tem a noção da crise de emprego
em Portugal, e sente o dever de dar umas dicas sobre a habitação em Londres, a
quem tiver espírito de aventura e gostar de circular por outras terras. Grande
parte desta informação aplica-se igualmente a outras partes do Reino Unido e a
pessoas exteriores à UE.
Viver
em Londres sai caro e também não é
barato em praticamente nenhuma grande metrópole do mundo. Se for rica poderá comprar, arrendar
ou viver num hotel. Mas se não dispuser de grandes fontes de rendimento terá de
procurar uma solução mais económica, tais como arrendar uma habitação. Quando se tem imaginação, encontram-se muitas
opções de desenrasque, desde squatting (a lei mudou recentemente e tornou-se
mais rigorosa), habitar em casa de amigos e outras soluções que nem me passam
pela cabeça. Tudo dependerá das circunstâncias pessoais de cada pessoa.
O
processo mais convencional é arrendar um quarto (room),
um estúdio (studio), um T1 (one bedroom flat), T2 (two bedroom flat) e por aí
adiante, no sector privado. Como? Poderá
falar directamente com o senhorio. Poderá
ainda perguntar nos cafés portugueses. Muitas lojas afixam nas vitrinas
anúncios de casas, apartamentos e quartos para arrendar. Os pubs (o equivalente
dos nossos cafés) alugam quartos por cima dos estabelecimentos. Em Londres
também é tradição partilhar a casa, cada pessoa vive no seu quarto, mas utilizam
em comum a sala de estar, a cozinha e o quarto de banho. Isto é muito frequente
com a juventude estudantil e também trabalhadora. Quando alguém parte, anunciam
imediatamente a vaga. Está presentemente a acontecer em Londres o fenómeno de
dividir os apartamentos em pequenas unidades habitacionais selfcontained (com
cozinha e quarto de banho), a fim de baixarem
o preço das rendas.
Loot
é um jornal de publicidade onde poderá
encontrar muitas habitações para arrendar, mas tente evitar as letting agencies
(imobiliárias), porque o custo dos serviços deles equivale geralmente a uma
semana de renda. Mas se tiver pressa em arranjar alojamento, isso é uma opção a
ter em conta. Não se esqueça que terá
também a possibilidade de viver num hostel, o qual não é menos do que um hotel,
mas é mais barato. Por vezes terá de partilhar o quarto, o preço é mais baixo e
estará mais à vontade se, por exemplo,
viajar com amigos, amigas. Assim disporá de tempo para arranjar habitação
particular sem necessidade de se precipitar.
Procure na Net porque Londres está cheio deste tipo de habitação
temporária. Como é óbvio, os hostels têm muita concorrência durante as férias
estudantis.
Preço
das rendas. Depende da área, do senhorio,
mas posso avançar com valores: viver num simples quarto poderá custar entre 80 e 120 libras por semana. No entanto
também há muitos quartos selfcontained (com fogão e casa de banho) ao mesmo
preço. Um T1 poderá custar 200 libras por semana ou mais, mas já terá de pagar
imposto municipal. Em geral a luz e a água não estão incluídas na renda. Pagará
ainda 4 semanas de renda de depósito e cerca de um mês de renda adiantada. Isto será devolvido se respeitar o pré-aviso a dar
ao senhorio antes de deixar a casa. Saiba que no Reino Unido as rendas podem
ser pagas semanalmente, talvez pelo facto de os salários da classe operária
(wage) também serem pagos à semana. O salário mínimo ronda as 6 libras por
hora. Se forem trabalhar para fábricas de embalagem de produtos agrícolas, em zonas
rurais, os patrões dão habitação com cozinhas comuns a baixo preço.
Quando tiver começado a trabalhar, adquiria até há bastante
recentemente o estatuto de trabalhadora/or, qualificando imediatamente para
colocar o seu nome numa lista de espera de acesso uma casa social, cuja renda é
cerca de metade daquelas praticadas no sector privado. A Folhinha acredita que esta legislação não
tenha mudado, porque estas leis sobre os
direitos dos migrantes europeus são emitidas em Bruxelas, e sobrepõem-se às leis
nacionais dos países da União. Informe-se gratuitamente nos centros de
aconselhamento (Advice Centres) do seu município. Lembre-se ainda que as
comunidades de expressão portuguesa no Reino Unido estão também a criar centros
comunitários em português onde se poderá informar. Mas como já há muitos anos que os municípios não
constroem casas sociais, só praticamente as pessoas vulneráveis conseguem
apanhar uma casa social. Mas se o seu salário
for muito baixo, poderá recorrer ao subsídio de habitação (Ler Folhinha 39).
Realojamento
para proteção.
Em caso de
violência doméstica, quer dizer, maus tratos, bullying em casa, deverá
imediatamente apresentar queixa na polícia, a qual entrará em contato com os
serviços para o efeito, inclusivamente
com os serviços habitação-abrigo (shelter) para vítimas, além da instauração de
um processo crime contra o agressor/a. Se for vítima em Londres, ligue e fale em
português pelo Telefono de La Esperanza, sediados em Brixton, na vizinhança de
Stockwell, Little Portugal em Londres: Ligue também para elas se a vida
lhe correr mal e tiver o moral em baixo: terá direito a umas palavrinhas de
conforto na altura em que mais precisar delas. Verá que valeu a pena. Não se
fique sozinha/o sem ajuda. (0)20 7733 0471. Unit 7, Fairfax House, Overton Road, SW9 7JR Londres.
Aviso à navegação: j´habite,
donc je suis (existo). Quando habitar no
Reino Unido, faça tudo direitinho como manda a lei e deixe-se de esquemas. Quer
dizer, arranje uma residência, exija contrato de arrendamento (tenancy agreement)
e ponha o gás, electricidade, telefone no seu nome. Se habitar com outras
pessoas, terá de pôr alguma factura destes pagamentos periódicos no seu nome.
Porquê? Porque mais cedo ou mais tarde, você vai precisar de provar onde
habita, como por exemplo, para abrir uma simples conta bancária. Estas
facturas, extractos bancários, cartas do município, da Segurança Social, do Serviço
Nacional de Saúde endereçadas a si costumam servir de prova de residência. É imperativo ter um endereço, porque sem
endereço é como se você não existisse, e como é óbvio, quem não existe não tem direito a nada aqui. Guarde também
todas as datas de saída e entrada neste país, e destino das suas viagens, (é
preciso saber se você foi tirar algum
curso de minas e armadilhas a algum lado, lol). Poderá vir a precisar desta informação, por
exemplo, para requerer o cartão de
residente permanente ao fim de cinco anos de estadia em Inglaterra.
Vamos agora concluir com uma Acção de Despejo (Eviction). Leia estas linhas com muita atenção e siga
isto à letra se não quiser passar alguns dias no hotel estrela (sleeping
rough). Quando habitar numa residência e tiver um contrato de arrendamento na
mão, o seu senhorio lhe der ordem de
despejo, e você não quiser sair ou não tiver para onde ir, VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO SAI, FICA! E assim que possível, você
desloca-se a um centro de aconselhamento, por exemplo, ao Citizens Advice
Bureau, advice centres, ou a um
escritório de solicitors, e inteire-se dos seus direitos e deveres. O senhorio
(landlord) até pode não ter razão de o despejar. Você até pode estar a faltar
aos pagamentos da renda, mas poderá ter uma explicação válida para isso. Não se
precipite a sair à papo seco, porque depois de estar fora é mais complicado metê-la/o
dentro.
O Reino Unido é um país de Estado de Direito, seja, não se pode fazer justiça por mão própria, e
quem se envolve em violência perde imediatamente toda a razão, e essa maluqueira pode ficar-lhe cara. O senhorio não poderá arrastá-la/o para a rua,
nem sequer poderá tocar-lhe na pele. Alguns tentarão intimidar o inquilino para
ver se ele conhece a lei, tentar assustar
e fazê-lo sair de um dia para o outro.
Não saia. Fique. A decisão de despejo cabe ao Juiz do County Court (Tribunal Cível),
e nunca ao senhorio, nem à polícia. Só depois do senhorio/a ter levado o caso a
tribunal, isto leva algum tempo, e o Juiz ter decretado entregar a residência
ao senhorio (Possession Order), é que o inquilino terá de abandonar a propriedade. Mas, se por qualquer razão, ainda
não quiser sair, o senhorio terá ainda de requerer ao tribunal a acção dos
bailiffs para executarem a ordem do tribunal. Isto também leva tempo. O
inquilino também poderá recorrer da decisão.
Acredite que os Juízes são pessoas de grande sapiência, e irão sempre
ponderar todas as circunstâncias pessoais da inquilina/o. Nunca poriam na rua
uma família com crianças, idosos, doentes etc. Os serviços sociais teriam
entrado em acção e encontrado uma solução viável.
Em caso de conflito litigioso, peça sempre ajuda a profissionais de
habitação nos
advice centres, solicitors, e não ande a agir à toa, à sua maneira e contrário
às leis. Não adianta andar assustada, stressada,
frustrado e a mandar vir contra tudo e contra todos. Neste país existem pessoas
voluntárias ou assalariadas a trabalhar
em centros de apoio, as quais terão todo o prazer em accionar os mecanismos de
defesa dos inquilinos e ajudar a resolver o seu caso.
4 comments:
Prezado Xará,
" Parte da filosofia da União Europa consiste em facilitar a circulação de trabalhadoras/es pelos mais variados países membros, a fim de criar laços fortes entre as pessoas e evitar provocar mais guerras."
Mas você acredita mesmo nisto ou é só para xingar do povo?
Á leitura da sua folhinha, constato que isso n´ão é mesmo mais um país, mas tão só um sitio, e ainda por cima mal frequentado. Também constato com algum prazer que aprenderam tudo dos afegãos, nomeadamente no que diz respeito às mais elementares liberdades prezadas por qualquer pessoa de bem. Adorei a tirada
*************************** lol)." ***********
******* até abate brasileiro pelas costas e depois faz as pazes com o kadaffi, que lhes abateu uma bobby também pelas costas...
Obrigadissimo por este refrescante insight desse ****************, que ninguém descreveu melhor do que o grande Guerra Junqueiro:
"Ó cinica Inglaterra, ó bebeda impudente,
que trazes tu ao negro e à escravidão?
Chitas e hipocrisia, evangelho e aguaardente,
espalhando por todo o escuro continente
a mortalha de Cristo em tangas de algodão"
Se não conhece o resto, é só dizer que eu mando.
Um abraço, e uma vez mais obrigado.
LM
Estimado Xará,
Todos os comentários enviados para o email serão publicados, mas retirados imediatamente a pedido do autor.
A Folhinha agradece sempre os comentários e acredita na liberdade de expressão. Mas por razões óbvias a Folhinha pensou censurar partes do seu comentário, mas queremos dizer que não é justo tê-lo feito. Ocultamos aqui a razão da decisão.
Segue agora um comentário anónimo sobre o seu, o qual a Folhinha publica na íntegra:
O estimado lxará sabe melhor do que eu que não há democracia perfeita por razões óbvias.
Posso confirmar que a democracia Inglesa situa-se entre as melhores, e o respeito pelo cidadão neste país também é grande.
Lembraria que a morte do Jean de Meneses pela polícia foi um acontecimento muito triste para todos nós. A própria polícia multiplicou-se em pedir desculpas, fez muita reuniões aqui em Stockwell com a comunidade lusófona e britânica para se falar do assunto etc. Assumiram a responsabilidade do acto, e o erro. Pensa que, por exemplo, a polícia brasileira faria o mesmo? Certamente que ouviu falar dos esquadrões da morte...
Deve saber que há aqui centenas de milhares de brasileiros a viver em paz e sob proteção social e económica do Reino Unido.
A visão do estimado leitor sobre o Reino Unido é uma visão do passado, quando todos os países utlizavam mais o canhão do que a diplomacia. Infelizmente, uns não eram melhores do que os outros.
O Reino Unido é hoje um país moderno, onde a população lutou e ganhou muitas liberdades, das quais usufruímos hoje. E continuamos a lutar para garantirmos liberdades conquistadas e ganharmos mais.
Quanto à Europa, não temos sido muito exemplares, somos um grão de areia na engrenagem. Mas os factos mostram que a Europa tem vivido em paz desde o fim da II Grande Guerra Mundial e os laços de amizade entre nós são cada vez mais fortes. Mas não pense que a filosofia europeia é de excluir outros povos. Não é. A Europa é uma União em construção sem marcha atrás, e aberta ao mundo exterior. A presença de brasileiros e de outras nacionalidades no solo europeu é prova disso. As amizades e laços fortes de países europeus com outros povos só enriquece a Europa e os outros países. Por exemplo, a grande amizade Portugal-Brasil é secular e é indestrutível.
Um forte abraço para si e obrigado à Folhinha pela publicação dese comentário
A Folhinha reconhece grande qualidade destes dois comentários e grande conhecimento da literatura portuguesa do comentarista xará. Poderá emviar o resto do poema de Guerra Junqueiro para publicação.
Um grande abraço da Folhinha para os dois comentaristas.
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