Friday, January 27, 2012

45. DA RES PUBLICA

FOLHINHA STOCKWELL 45
LITTLE PORTUGAL  - LONDON  UK
DA RES PUBLICA

1 Os nossos governantes atravessam presentemente um dos piores períodos da história desde que foi criada  a administração da Res Publica (assuntos públicos). A popularidade destes  profissionais caiu a zero, e são  alvo de todos os ataques e responsáveis por todas as  frustrações. 

Não deve de haver gente no mundo,  salvo os banqueiros, que tenha sido mais amaldiçoada com todos os vitupérios existentes nos dicionários da língua escrita e falada: gastaram, gastaram, comeram tudo e não deixaram nada! Estamos quase falidos! Agora não temos empregos, não temos dinheiro, e temos de imigrar para longe porque por perto o céu também está  cinzento! Pesadelo! Isto não é bem assim.

2 A Folhinha também tem lançado para o ar alguns palavrões e desabafos contra essa gente no poleiro, contra os detentores de capital e também contra os detentores de esperança de ganhar capital. Porém, depois de reflectir, a Folhinha chegou à conclusão de que será necessário separar o trigo do joio,  e não alinhar todos os nossos dirigentes em frente do pelotão de execução e dar ordem de disparar sobre tudo quanto mexe. 

O Madoff e outros não escapariam inteiros na China. Aqui não brincam no trabalho nem com a tropa.  Portanto a Folhinha vai ponderar serenamente e com tranquilidade na mesma corrente de pensamento dos nossos grandes mestres, os gregos da Grécia Clássica. Estes professavam que a moderação e não o excesso tresloucado deve ser a medida a utilizar em todas as situações, a fim de atingirmos a harmonia.  Basta olhar para um templo grego e compreendemos logo que o equilíbrio das medidas é a regra que conduz à beleza.

3 A Folhinha vai hoje ousar falar de política, também não gosta, mas todos nós vemos agora com esta crise económica sem precedentes, quer queiramos quer não, que o nosso bem-estar depende da política,  quer dizer, da administração da Res Publica.  Enterrar a cabeça na areia como faz a avestruz e dizer que não quer saber de política para nada, isso é uma atitude de drogado ou de bebedola,  é um comportamento niilista parvo, estúpido, de atrasado mental e de ignorante armado em Chico esperto. É uma  atitude irresponsável que conduz depois a frustrações e desabafos tresloucados em conversas de café a vociferar contra tudo e todos, e não produz resultado nenhum. Nem sequer votou! Mas  teve a oportunidade de escolher os seus representantes em democracia (demos>povo; cracia>poder em grego, poder do povo), mas  esteve-se nas tintas armado em sabichão, em doutor, mas que mal sabe ler, e tirou o curso de praia.  

Você não percebe nada do assunto, nada de nada, portanto esteja caladinho e não diga que o Salazar foi o melhor estadista de todos os tempos, porque está a poluir o espaço da Folhinha com bafio nauseabundo. Por outro lado, muitas destas pessoas, cheias de negatividade, falharam ou falharam-nas ao longo da formação cívica.  Nisso, o Estado também não lhes deu os apoios devidos em preparação para a cidadania. Por conseguinte, a Folhinha acredita que essa gente foi e é vítima do sistema, cujas frustrações podem tomar várias formas, entre elas a alienação do Estado e de quem o representa. 

4 Se não houvesse eleições para eleger representantes, então haveria quem tomasse o poder pela força de armas,  e neste caso você seria logo retirado da circulação se abrisse a boca contra esses ditadores violentos. Fechavam-no nas masmorras e depois esses cães raivosos cortam-lhe a língua aos bocadinhos, arrancavam-lhe as unhas uma a uma, encravavam-no  na água até à goela em Caxias, na Trafaria, em Peniche.

 E no Tarrafal morria assado ao sol!   Você gritava e suplicava a todos as santas e  santos para o salvarem daquele purgatório. Ninguém ouvia as suas suplicações, ninguém o tirava dali, não tinha advogado para o defender!  Os verdugos, instrumentos brutos do poder tinham ordens para não lhe limparem o sarampo repentinamente. Torturavam, matavam pouco a pouco até você ter sofrido e extinguir-se por si próprio.  

O seu espírito perdia a esperança e a vontade de viver, o seu corpo perdia  toda a energia  e  desistia de lutar pela vida. Quantos assim não desapareceram ao longo da tirania salazarenta sem deixar rasto! Aquele que o milagre salvou desse inferno ficou politicamente mudo ad infinitum ou então teve a coragem e  meios para dar às de Vila Diogo! Raspa-te daqui meu!  

5 Portanto, todos esses que andam por aí a falar sem saber o que dizem, felicitem-se, e cada dia ao nascer do Sol, dêem graças e louvem o Senhor por terem o privilégio e a paz de espírito de viverem em Portugal, país livre, democrático e onde lhe é oferecido de bandeja o direito de escolha em plena liberdade dos seus representantes políticos. Se não votar, perde o direito a qualquer crítica depois.

 Se escolheu mal, então tente escolher melhor nas eleições seguintes. Isto funciona mesmo assim desde quando os capitães de Abril arriscaram as vidas deles para hoje podermos gozar desta liberdade de expressão política, religiosa e outras.  O destino universal do homem e  da mulher é de serem livres. Tudo quanto impede esta aspiração e caminho divino de atingir a plena emancipação e liberdade humana de escolha, são obstáculos  de percurso, os quais cairão no tempo e espaços ou serão derrubados. 

Felizmente temos muita gente ajuizada, moderada em Portugal que não acredita em aventureiros, e sabe escolher os seus gestores políticos.  Aceita pacificamente a expressão do povo nas eleições, e compraz-se no sistema democrático e de alternância política. Que grande lição democrática para o mundo de um povo que sofreu meio século de repressão pela ditadura fascista de Salazar!

6 Há bastante recentemente ninguém imaginava que jamais seria possível a revolta popular denominada Primavera Árabe. Apanhou-nos a todos de surpresa!  Já tínhamos tido outra surpresa nos fins do século passado com o derrube do muro de Berlim. Vamos agora ver o que vai acontecer ao sistema capitalista, o qual está presentemente a gerar profundo descontentamento pelo mundo fora. Bankers’ve screwed up! 

Há banqueiros que fizeram porcaria. E persistem sem vergonha a distribuir entre eles milhões que saíram dos erários públicos quando as proezas destes senhores levaram à banca rota! No entanto, pode ficar tranquilo sobre a continuação deste sistema democrático de gestão pública e liberdade do cidadão, durante toda a sua vida, embora o Othelo, Guia da Revolução dos Cravos,  tenha mandado umas bocas contrárias, as quais também deixaram a Folhinha estupefacta.  Bless him.

7 Já falei dos gregos e vou continuar  na Grécia da Ágora, das deusas e deuses pagãos, donde derivam as nossas deidades, a nossa cultura e também o nosso sistema de governo. Entre outros, mencionarei algumas referências da Grécia Clássica, séculos antes de Christo, as quais modelaram o pensamento europeu até aos dias de hoje:  Homero escritor da Ilíada e Odisseia, o legislador poeta Sólon, o Socrates de Atenas, o Platão e a sua Repúbica, o Aristóteles e a sua Ética a Nicomaco, Sparta e seus guerreiros, a Maratona, os Jogos Olímpicos e as odes do poeta Píndaro, os dramaturgos  Esquilo, Sophocles, Euripides.  A Grécia é o berço da nossa civilização e a dívida do Ocidente, Américas e outros em relação à Grécia é muito superior à dívida soberana deste país.

8 Quanto à política, esta palavra deriva de Pólis que era a cidade-estado na Grécia Clássica. Estas cidades-estados  eram portanto independentes, guerreavam umas com as outras, mas faziam uma trégua durante o Jogos Olímpicos, porque os jogos eram realizados em honra de Zeus. Portanto,  a palavra política significa simplesmente a gestão do Estado, a gestão pública.  É óbvio que tem de haver gestão, governo, seja de uma casa familiar ou de uma casa grande de muitas famílias, quer dizer, a gestão de um país. 

Todos os cidadãos contribuem com impostos, os quais vão para os cofres do Estado. Depois os gestores ou políticos, dê-lhes o nome que quiser, vão gerir  esse dinheiro. Todos os anos, o ministro das finanças escreve um projecto (orçamento) onde descreve onde vai gastar esse dinheiro segundo as necessidades do país. Acontece praticamente em todos os países que o dinheiro dos impostos não chega para as encomendas, e então os governos pedem emprestado. Emitem os famosos títulos do tesouro e você compra se tiver dinheiro, e depois recebe juro. Portugal deve muito e a  Inglaterra deve mais,  já tem uma dívida de um trilião, mas há por aí muito dinheiro à solta em más mãos.

9 Todos sabemos que esse dinheiro dos nossos impostos é para construir hospitais e despesas de manutenção, pagar aos professores nas escolas, pagar à polícia, ao exército, construir estradas, pontes e manutenção das mesmas, pagar aos bombeiros, etc.  Tudo isto é necessário e custa muito dinheiro. E tudo isto é administrado pelos políticos, mas eu gosto mais de lhes chamar gestores porque a política embora seja uma arte nobre,  a palavra tem má conotação devido a haver maus políticos e depois paga o justo pelo pecador. 

A Folhinha acredita que há muitos bons políticos, zelam pelo bem estar das populações que representam.  Até há muitos a quem a política não traz dinheiro nenhum, e por vezes até gastam o próprio dinheiro deles. Isto é por exemplo o caso da Folhinha. Temos o prazer de lhe redigir gratuitamente este ensaio político e depois enviá-lo para si também sem lhe pedir um tostão. Sempre houve, há e sempre haverá gente com genes bons e põem o interesse da Justiça e da colectividade acima do interesse individual deles próprios.

 Alguns deram e  dão a vida por esses ideais de liberdade humana. Ainda há muitos países onde impõem às populações dirigentes para venerarem e lhes obedecer e deuses para louvar! Mas há por lá muito contestatário e pensadores livres! Cuidado! Mas estas pessoas são assim feitas, são destemidas, audaciosas, desafiam, arriscam.  Nada as consegue parar, assim como também não conseguem parar o Sol nem mudar a lei da gravidade.

10 O problema surge quando certos indivíduos entram para a política motivado pelo interesse e enriquecimento próprio. Esse corrompe tudo por onde passa e deixa rasto sujo. Não vou descrever em pormenor, porque todos sabemos o que acontece quando este tipo de pessoa ocupa lugares de decisão, e sobretudo se lhe entregarem os cordões da bolsa! São um desastre público. 

Por isso, é imperativo ser rígido no controle e inspecção, cumprindo  sempre as regras de  procedimento. O problema está na pessoa e não na política. Alguns cidadãos fazem ou pretendem fazer confusão entre a dicotomia pessoa e política, para destabilizar a democracia, movem-se melhor nas ditaduras, e ainda não digeriram o 25 de Abril.  Apontam o dedo para a embalagem e não para o conteúdo. Esta gente quer reservar o conhecimento político só para uma minoria, quando a política é actividade cívica e social, é parte integrante da vida, do dia a dia das cidadãs e cidadãos nos países civilizados.  

11 A componente de conhecimento do político como pessoa é essencial no acto de escolha dos seus representantes. Quem não conhece os elementos da sua junta e Assembleia de Freguesia? A taxa de participação no acto eleitoral nas aldeias portuguesas parece ser bastante elevado. Há uma tendência em votar mais na pessoa  no que no  partido político que representam.  

Conhecem os ou as suas candidatas, conhecem-lhes as famílias, sabem em quem votam e votam acertadamente na maioria dos casos. São políticos de proximidade e prestam bom serviço ao cidadão na resolução de problemas com a administração pública. Pode ser um buraco na rua, uma luz na via pública fundida há muito tempo, distúrbios permanentes num bar da vizinhança, etc. Caso não resolvam os problemas, irão para a rua nas eleições seguintes!  Isto é o funcionamento democrático ideal.

12 O  Deputado da Assembleia da República tem uma área maior e está mais afastado das populações que representa. A maioria da população não tem muito contacto directo com estes, porque movem-se numa dimensão que parece estar mais distante dos problemas do dia a dia da cidadã. Mas cuidado, porque as decisões e leis que fazem e votam podem afectar dramaticamente a sua vida, o seu bem-estar e o dos seus.

13 Antes de votar, tente saber quem é essa pessoa candidata deputada da sua área à Assembleia da República, a qual se propõe representar a sua classe social ou profissional. Tire-lhe um raio-X ao pensamento, pense naquilo que ele ou ela diz, ou não diz. Veja se a pessoa está a falar honestamente ou se está a mentir para lhe caçar o voto. Se você tiver falta de tacto e for enganada, porque votou no  fato azul do  actor, depois terá de deitar as culpas a si própria.  

Votou de olhos fechados. Quer que lhe diga mais? Então digo: se você for riquíssima, certamente que não irá votar na candidata que é filha da sua empregada a dias, a quem você paga uma miséria e carrega de trabalho. Não deve de encontrar muitas situações destas! Compreendeu a ideia? Então sabe que não estou a dirigir-me à cidadã rica. Ela não precisa dos conselhos da Folhinha, porque tem discernimento suficiente para saber qual é a candidata que melhor lhe defende os interesses. Mas se for pobre, digo-lhe já também que não terá muito por onde  escolher. 

Terá de escolher entre candidatas ricas e candidatos abastados. Assim você perde sempre. Mas eles e elas sempre vão fazendo alguma coisa por si por razões de ordem pública.  Sempre é melhor termos lá alguém a dirigir o barco do que cairmos no caos como na Somália, onde reina a lei da selva. Nem o oxa lá tem mãos naquilo, e até já deve ter cavado dali para fora: a no god´s land, bruv!

14 Interessa descrever em poucas palavras o sistema eleitoral britânico, espaço sócio-político da Folhinha. A Assembleia da Monarquia porque isto não é uma república, chama-se The House of Commons e é eleita por sufrágio universal. O sistema tem pouco de democrático porque só elegem uma deputada por círculo eleitoral: o tal sistema chamado first past the post. Quer dizer,  a candidata com mais votos é eleita e quem está em segundo não ganha nada, não é eleita. Neste sistema, um partido pode ter mais votos à escala nacional e perder as eleições! Ridículo mas é assim por agora. Só podem votar os cidadãos nacionais e os do Commonwealth.

15 As comunidades da União Europeia podem e devem votar na eleições europeias,  câmaras municipais e para o Mayor de Londres.  Por exemplo no município de  Lambeth, onde vive uma grande parte da comunidade portuguesa, cada círculo eleitoral (ward) tem 3 vereadores chamados councillors  (não é o mesmo que counsellors). O eleitor tem direito a escolher 3 candidatos e põe uma cruz no quadradinho (box) junto a cada uma dessas 3 pessoas que quer eleger. Vão  depois participar nas decisões de gestão da municipalidade.

 Estas vereadoras da câmara em Brixton têm depois uma permanência, em geral, uma vez por semana, num centro comunitário da área onde foi eleita. Qualquer pessoa dessa área poderá em qualquer altura ir a essa permanência  (surgery), ou contactar por outro meio uma das councillors (vereadoras), quando tiver qualquer problema ou conflito com a câmara. Este serviço à população é muito importante porque as autarquias inglesas são um Governo Local. 

Têm mais poderes do que as câmaras portuguesas. O município gere a assistência social, a educação, a habitação social, o comércio etc. Porém,  terá obrigatoriamente de preencher o formulário de inscrição para poder votar. Se não o fizer, a câmara se quiser poderá espetar-lhe uma multa pesada! Cuidado, não se lembrem eles de lhe lixar as poupanças de vários meses!

16 Continuando em Lambeth, resta acrescentar que enquanto estivermos em democracia indirecta, teremos de eleger quem nos represente nas instâncias do poder local. Votar é um privilégio, dever,  ação louvável e o acto mostra que a votante tem consciência política, é entidade política, cidadã, tem dignidade e merece respeito. Se não vota, anda a leste, está desintegrada e anda no mundo por ver andar as outras. Não vota, não é pessoa, não existe! 

Isto é linguagem directa.  Ainda mais, uma comunidade só será respeitada pelo país onde vive, e verá as suas filhas e filhos a ocupar lugares de destaque no município, quando atingir esta maturidade, emancipação, maioridade e ir cumprir a sua obrigação de cidadã, cidadão, dirigindo-se às mesas de voto (polling stations) no dia das eleições.  VIVA A DEMOS   CRACIA.  

2 comments:

Anonymous said...

Caro Sr(s). "Folinha", como posso entrar em contacto? quem escreve esta folinha nao 'e certamente a mesma pessoa que escreve os emails que recebo quase diariamente e os quais agradeco desde ja. mas gostaria de mais alguns esclarecimentos ja que penso ( e me perdoeem a inusitada audacia ) que posso ajudar/colaborar . nomeadamente no aspecto grafico mas tambem ao nivel de gestao de conteudos. aguardo a vossa resposta.
o meu email: jaddesign@hotmail.com
abraco, e continuacao de bom trabalho.
(i'm sorry about the missing "cedilhas", etc.)

carter james said...

Prezada Leitor (a)
A Folhinha agradece seu comentário.
É sempre grande prazer receber ofertas de colaboração. A Folhinha se sente muito grata pelo fato. A ajuda é sempre bem vinda. O Xará terá sempre a oportunidade de deixar comentário online. Acrescento que Folhinha é um blogue, e, por isso, goza de muita liberdade ao nível do constrangimento às normas literárias e outras. A transgressão desses códigos é bem visível, por vezes intencional, e outras vezes decorre pura e simplesmente de automatismos.

A razão disto é a componente de espontaneidade livre, a intenção de alertar para situações prementes e provocar debate, reação e chegar a resoluções de problemas. Sua colaboração será uma mais valia no afinamento do blogue, e haverá certamente uma altura para um encontro frente a frente. Estamos todos sujeitos a horários apertados, correndo atrás do tempo, descurando frequentemente socialização e networking com pessoas interessantes.
Um grande abraço para si do bloguista da FOLHINHA